Já vimos aqui que o Tarot de Marselha é composto de 78 cartas, sendo 22 arcanos maiores e 56 menores. Enquanto os arcanos maiores remetem a desafios realmente maiores, momentos de vida mais abrangentes, jornadas, os arcanos menores conversam sobre os desafios cotidianos, aspectos de personalidade, características materiais, intelectuais... Dentro dessa categoria, podemos identificar as cartas numeradas e as cartas da corte, que equivalem às cartas trunfo dos baralhos tradicionais. Enquanto as cartas numeradas indicam um estágio da vida, ou aspectos de origem material, espiritual, intelectual ou sentimental, as cartas da corte geralmente representam pessoas. Pode ser que seja um reflexo do que vivemos, do que mostramos aos outros; pode ser alguém de importância nas nossas vidas.
Enquanto nos decks inspirados no trabalho de Arthur Waite encontramos mais respostas explícitas, o deck Marselha é mais enigmático. Nos primeiros, geralmente vemos todas as cartas de arcanos menores numeradas, com uma cena retratada, nome do naipe ou símbolo. No Tarot de Marselha, as cartas numeradas não tem legenda, ainda que os números sejam representados numericamente dos dois lados nos naipes de Copas, Paus e Espadas, enquanto na série de Ouros isso não ocorre.
As cartas de trunfo representam a estrutura da corte à época de concepção do Tarot. Nelas são retratadas as figuras da aristocracia: Valetes, Rainhas, Reis e Cavaleiros. Enquanto todos trazem a legenda na parte inteiro da carta com seu nome, o Valete de Ouros possui seu nome escrito lateralmente, à direita.
Nos arcanos maiores percebemos que todas as cartas possuem uma legenda na parte de cima com o seu número e outra embaixo com seu nome. As exceções se encontram no arcano O Louco, que não possui referencial de número, daí quem o considere o 0 ou 22, e o arcano XIII, chamado de "O arcano sem nome", embora seja conhecido como A Morte, não possui seu nome gravado na carta. Aliás, você sabia que no Marselha original o esqueleto a quem chamamos de morte é de cor azul, vermelho e amarronzado? Muito colorido para ser de um esqueleto morto, não? Pois bem, este arcano mostra um esqueleto vivo, uma força transformadora agindo, e não algo morto. Portanto não devemos ter medo desse arcano, ainda que talvez seja a primeira impressão que temos. Mas devemos entendê-lo como um agente transformador em ação.
Perceber esses detalhes é de fundamental importância para os recém chegados nesse universo. E muitas vezes passa despercebido. Muitas vezes nos apressamos tanto para fazermos leituras, para desvendarmos mistérios, que pulamos uma etapa fundamental que é perceber a estrutura daquilo que temos em mãos. Pode ser que depois disso tudo você ainda prefira o sistema Rider Waite. Ok! Eu adoro esse sistema e principalmente seus decks inspirados. Mas com certeza você vai olhar pro bom e antigo Marselha com outros olhos. E vai entender que nossa, com certeza tem algo de muito mágico e especial nesse oráculo.
Falando novamente da magia que o envolve, você já percebeu vários detalhes, não é mesmo? Tem mais aqui! Pegue o seu Tarot em mãos e observe. Organize os arcanos maiores em duas fileiras, de forma que na parte de cima vá do arcano Mago à Roda da Fortuna, e na de baixo, da Força até o Julgamento. A carta do Louco posicione à esquerda das fileiras, e a do Mundo, à direita. Perceba que os arcanos maiores são organizados propositalmente em duas séries! Observe para onde olham, sua postura. Tudo tem sentido! Você verá que as cartas de cima sempre conversam de alguma forma com a de baixo, pode ser um detalhe bem visível, como o chapéu do Mago ser parecido com o da mulher retratada na Força, ou pode ser sutil, como as duas bandejas da balança na Justiça e dois cães retratos na Lua.
Uma nota bastante interessante do Jodorowsky em seu O Caminho do Tarot foi ressaltar que a série retratada nos arcanos de I a X representa personagens quer humanos, quer animais em situações identificáveis e exceto no arcano VI, o Namorado, a parte de cima da carta coincide com a cabeça do protagonista, como um retrato. Esta série, por retratar imagens com alguma conotação histórica ou social é chamada série clara. Em contrapartida, na fileira de baixo, os personagens e as situações assumem um caráter mais alegórico. Esta série é chamada escura porque se desenrola num universo psíquico e espiritual, como num sonho. Nesta série vemos retratados anjos, demônio, astros, manifestações energéticas e da natureza.
Acabou? Era isso? Não. Observe mais um pouco! Nesta primeira fileira algo mais te chama atenção? Hummm. Os arcanos da série dita clara realizam sua ação para cima. Os arcanos da série escura, para baixo. Se você tinha dúvidas, acho que já pode começar a pensar que esses desenhos todos no foram feitos ao acaso, certo?
Bem, acho que é momento de deixar vocês um pouco mais à vontade com o seu Tarot! Imagino que olharão atentamente e com outros olhos. Espero que tenha feito algum sentido ou que tenha acrescentado algo à sua jornada! Se vocês ficaram como eu, ficaram espantados por perceber que nada é por acaso. Irão se questionar porquê algumas cartas tem números, outras não. Porquê um objeto é erguido em uma mão e seu equivalente parece brotar do chão... muitos porquês!
Na próxima parte vamos conversar mais um pouquinho sobre esse oráculo divino, porque com certeza, tem mais história por aí!
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Até a próxima!
Bjs da Ju
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