O Louco |
Uau, já faz um tempinho que não conversamos não é mesmo? Mas vamos matar essa saudade! Hoje dando continuidade a série, vamos falar novamente da estrutura do Tarot. Você fez o exercício da leitura anterior? Percebeu algo de especial na ordenação do seu Marselha? Hummm... olhando atentamente você deve ter percebido que os números expressados no oráculo são romanos. Mas algo está estranho, certo? Enquanto em números romanos o número 4 é expresso como IV, que na verdade significa 5 - 1, o Imperador é denominado IIII. Bem como O Eremita é VIIII, A Temperança XIIII e O Sol XVIIII. Não, não é um erro. Significa apenas - não tão apenas assim - que a organização dos arcanos segue apenas uma direção. Há uma ordem de progressão implícita que deve ser obedecida. O Tarot de Marselha se organiza na progressão, na adição, e não o contrário.
Observando isso, atente-se para o fato de que neste oráculo a soma dos pares espelhados é sempre 21. Como? Sim. Organize agora seus arcanos maiores d'O Louco até O Mundo. Agora some os pares espelhando o primeiro e o último, o segundo e o penúltimo, e assim por diante. A soma das onze duplas sempre é 21. Para Jodorowsky, é possível estabelecer uma relação entre esses pares: O Louco e o Mundo - energia livre e fundamental se encarna na completa realização, O Mago e O Julgamento - uma mente jovem, no caminho da iniciação, recebe o chamado da nova consciência. E assim por diante. Mais uma vez me prendo à ideia de que essa concepção não foi ao acaso.
Enquanto O Louco pode ser considerado o início, a energia fundamental, livre, ilimitada, O Mundo é a realização do planejado. Lembremos que muito da cultura religiosa cristã impregnou as cartas de tal maneira que vemos anjos, diabos, retratados. O Louco nessa alegoria pode ser interpretado como a energia criadora que se realiza n'O Mundo, aonde há alegoria da mulher - alma - rodeada pelos quatro elementos. Tal Arcano resume toda a organização do Tarot. Vemos a retratação das quatro figuras relatadas na visão de Ezequiel, um anjo, um boi, um leão e uma águia. O fato da mulher estar enclausurada dentro do arco de folhas também conversa com o mundo conhecido ser contido dentro de barreiras.
Se dividirmos a carta em quatro porções, percebemos que os quatro cantos manifestam energias diferentes: na parte inferior da carta encontramos dois animais terrestres, na parte de cima duas figuras aladas. Dentre os animais terrestres, um é herbívoro, o outro carnívoro. Das figuras aladas, um é um anjo, significador de um amor puro, incondicional, portador das mensagens divinas; o outro é uma águia, animal predador, que remete à grandeza e à ascenção. O próximo passo é perceber que à direita estão os dois predadores ativos, à esquerda, estão o boi e o anjo. Enquanto o boi é visto essencialmente como um animal criado para servir, sua carne é seu produto, o anjo é mensageiro do amor de Deus. Enquanto na mão direita da mulher há uma vara, um componente ativo, na mão esquerda encontra-se uma bolsa, componente receptivo.
Sendo assim, podemos dividir a carta em 5 sessões: o centro - a essência - , o céu - receptivo e ativo - e a terra - receptiva e ativa. Tal estrutura remete à própria organização do Tarot de Marselha: enquanto os Arcanos Maiores remetem à essência do ser, os Arcanos Menores remetem à cada uma das extremidades retratadas na figura, relacionando-se então com a natureza ativa ou receptiva de cada naipe. Mas isso é assunto para outra hora!
O Mundo |
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Bjs da Ju
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