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Deixa eu te contar um último segredo...

Símbolos arcanos Menores
Representação Gráfica dos Naipes do Tarot


Dando início ao último post desta série, vamos falar um pouquinho sobre os arcanos menores. Muito se fala dos arquétipos dos arcanos maiores, facilmente enxergamos os segredos intrincados, mas e nesse grupo? 
Os arcanos menores se dividem em quatro naipes: Espadas, Copas, Paus e Ouros. Cada naipe desses fala de um aspecto, ou nuance, específico, e de alguma forma eles estão representados no arquétipo de O Mundo. Já vimos no post anterior como essa carta foi projetada. Mas você já pensou no porquê de cada um desses naipes ser representado por esses símbolos, especificamente?  Por que Espadas, Paus, Copas e Ouros?

O exercício de hoje consiste em observar a linguagem do Tarot se desenvolvendo nessas cartas. Separe as cartas por naipe, organize-as de forma progressiva, do Ás ao Dez, em fileiras. Faça o mesmo com as cartas da corte. Observe a disposição dos elementos nas cartas, as posturas, o que seguram, para onde se dirigem... tenha em mente agora a carta O Mundo e a sua organização espacial. Ainda que seu deck não seja um Marselha, você poderá notar a linguagem do Tarot de maneira fluida. Um exemplo de observação bacana, mas que nesse caso funciona melhor no Marselha: separe os Valetes de forma que na fileira de cima esteja o de Copas e o de Espadas . Embaixo, de Ouros e Paus. Observe  que os representados à esquerda possuem seu símbolo representado na mão receptiva. Observe também a posição de seus pés. Enquanto o de Espadas e o de Ouros possuem  os pés direcionados em posições diferentes, mostrando que possuem características ambíguas, o de Copas se direciona completamente para esquerda, afirmando sua receptividade, e o de Paus para a direita, reforçando seu grau ativo. Observe seus símbolos. A espada do valete apontada para o céu, conversa com a águia em O Mundo - ainda que a bainha esteja apontando para baixo e ele a segure; a taça levantada para o alto, com o anjo; a moeda é representada na mão, mas também está no solo, mostrando que o ouro sai do solo para as mãos como moeda de troca, assemelhando-se ao boi; o tronco apoiado na terra, correspondendo ao leão.  

Uma coisa que você pode observar também é que enquanto os naipes de Espadas, Copas e Paus são numerados, Ouros não. A mão que estende a Espada, no Ás, mostra seu dorso, a que levanta o tronco de Paus, a palma. A taça de Copas se assemelha à um templo, se apoiando numa superfície, e a moeda de Ouros parece brotar do chão como um alface numa horta.  Cada detalhe desses me faz acreditar cada vez mais em que nada no Tarot é por acaso. Muitas vezes esses detalhes passam batido, e se a gente se mantém alerta para identificar essas minúcias, fica mais fácil desenvolver todo nosso potencial de leitura.

Aí pode estar passando pela sua cabeça agora: nossa, quanta coisa a se observar e se pensar, não é mesmo? É verdade! Bem mais profundo do que somente aceitar a correspondência com os quatro elementos! As vezes é importante dar um passo atrás e perguntarmos o porquê das coisas. Esmiuçarmos os detalhes e treinar nossos olhos pra captá-los. Pode ser mais cômodo para algumas pessoas apenas aceitar os significados, especialmente quando lidamos com algo místico ou sobrenatural. Temos mania, as vezes, de botarmos tudo na conta do espiritual. Como se a leitura do Tarot se desse de maneira semelhante a alguém lendo os dez mandamentos. Nunca duvide da sua espiritualidade, intuição ou como quer que você chame esse seu potencial, mas nunca deixe de investigar o porquê das coisas. Estude, leia, descubra. Você perceberá que suas leituras só tem a ganhar! Desculpem o desabafo! :-)

Uma coisa que achei bem interessante é tentar entender o porquê das associações entre os naipes. Espadas se relaciona ao Ar, não é? E ao falarmos de Espadas pensamos no intelecto, no plano mental. Isso você já sabia. Mas por quê? Já observou que a espada é uma arma fabricada pelo homem? Que é necessário afiá-la e amolá-la tal como nossa inteligência, como nossa linguagem? Assim como o bebê aprende a falar aos pouquinhos, treinando, repetindo, assim vamos desafiando nosso cérebro, nossas mentes, tornando a linguagem mais fluida. Aliás, podemos encarar essas habilidades como armas, não é mesmo? Um discurso bem feito não deixa de ser uma arma. Se mal feito, também, mas aí é um tiro no pé!  Lembrando que Espadas corresponde à Águia. Um animal predador, que observa do alto sua presa, que faz um ataque geralmente certeiro e mortal. Por que? Porque se preparou. 

No naipe de Copas, o cálice se assemelha a um templo, conversa com aquilo que interiorizamos e transformamos em sentimentos, aquilo que confinamos dentro de nós. Corresponde ao anjo, um mensageiro do amor de Deus. E por ser algo que pode represar algo, conversa com o elemento Água. Dentro desse cálice pode estar despejado nosso amor, nossa angústia, nossas expetativas. 

O tronco, de Paus, é um elemento criado pela natureza, mas que sofre influência do homem para se transformar em outra coisa se assim for desejado. Ele representa a natureza primária, criativa, sexual. Algo que pode ser manipulado, mas sua criação independe dos desejos alheios. Combustível natural, se relaciona com o elemento Fogo, e corresponde ao Leão, rei da selva e símbolo de ímpeto e poder, aquele que é indomável.

A moeda representada em Ouros é também algo natural, um mineral, que ao ser forjado, se transforma em riqueza pelas mãos do homem. Portanto fala do que nos é dado pela natureza e se materializa pela ação direta do trabalho, do esforço (de qualquer natureza). Sua correspondência é com o Boi, e conversa com o elemento Terra. Não faria mais sentido não é mesmo? Hoje em dia o gado é visto como dinheiro materializado. Pensou no leão, pensou em força e poder, pensou no boi, pensou em carne. Pensou no quanto de dinheiro esse mercado move, a despeito da natureza desse animal.

Acredito que ao pegar seu Marselha agora você não verá mais o Arcano O Mundo com os mesmos olhos. Perceberá nele a reunião de todo segredo que esse oráculo tão sábio carrega.  Continue a se desafiar, a enxergar esses detalhes. Observe as cartas da corte. Perceba a postura diferente entre correspondentes. Porque será que um olha para um lado, outro para outro? O que isso quer dizer? Tenho percebido que nada é por acaso. Sempre há uma história - coerente - por trás. Isso torna tudo mais interessante, você não acha? 

Encerramos aqui essa série, espero que tenham gostado! Tem muito material legal por vir, não deixem de conferir!  
Têm dúvidas, sugestões? Deixe seu recado! 

Bjs da Ju 

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